Quem está longe sabe melhor do que ninguém falar de saudade. Mas talvez só consiga falar de saudade quem pensa e sente em português.
Sentir saudade é mais do que sentir falta (missing you), é mais do que querer estar junto... sentir saudade é saber que há um oceano que nos separa, que há quilómetros e quilómetros que nos afasta e que nenhuma carta, telefonema ou chamada Skype pode preencher esse vazio.
É difícil definir este sentimento e é difícil de explica-lo a alguém que não têm no ADN as caravelas dos descobrimentos. O que é que fazemos com a saudade?
Bom, a saudade faz parte das nossas vidas, ela ajuda-nos a perceber aquilo que é importante, aquilo que faz parte da nossa pele.
Afastá-la só nos vais afastar de nós. Ouvi-la, vai fazer-nos crescer.
Hoje em dia vivemos cada vez mais em contacto, mas talvez cada vez mais afastados uns dos outros, longe uns dos outros. A emigração nunca deixou de fazer parte da cultura portuguesa, a necessidade de viajar, de percorrer novos rumos está presente no dia-a-dia. Os empregos, cada vez mais exigentes, fazem com que muitas vezes estejamos só com o outro em contacto electrónico; os pais estão mais tempo nos seus lovais de trabalho e os filhos mais tempo nas escolas.
Talvez por isto, hoje em dia, penso que nos relacionamos em saudade. É estranho, não é? Mas não será verdade? Estamos tão longe de todos, de diversas formas.
E é aqui que penso que a saudade tem uma função fundamental: lembrar-nos que aquela pessoa é importante, que importa que encontre tempo e forma de estar com ela.
Estar emigrado implica saudade e lidar com ela implica amadurecimento da alma. Talvez nunca seja possível clarificar este conceito ou explicar a alguém o que sentimos quando a expressamos, mas quem leu este texto em português, percebeu com toda a certeza o que ela significa.
Psicóloga, Psicoterapeuta e Investigadora RUMO
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