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Racismo e sofrimento psicológico: qual o impacto para a saúde mental da vítima?

O racismo estrutural concede recursos desiguais no acesso aos sistemas educativos, de saúde, de trabalho, de justiça ou de habitação entre pessoas. Existe sim “privilégio” e o racismo emerge, mesmo quando não nos damos conta.





Anti-racismo pela equidade

O problema é de todos. É histórico, cultural, educacional, institucional. É também um problema enraizado e perpetuado, entre tantos, “mas...” no nosso dia-a-dia. O racismo é um complexo sistema imposto e continuado que se pode configurar como uma doença cultural. Está na sociedade, na (nossa) estrutura. Esta doença é especialista em protelar a identificação, em cada um de nós, dos nossos próprios ódios e preconceitos. Julgar poderá ser mais cómodo do que observar o que (não) nos nutre. E a zanga, essencial para mais assertividade, confiança, determinação e imposição de limites, transforma-se em violência continuada.


Racismo estrutural e saúde mental

O racismo estrutural concede recursos e oportunidades desiguais no acesso aos sistemas educativos, de saúde, de trabalho, de justiça ou de habitação entre pessoas. Existe, sim, “privilégio” e o racismo emerge mesmo quando não nos damos conta.


Não podemos continuar a silenciar, porque a ignorância e a apatia também fazem “perder vidas”.

Nascemos num sistema em que respiramos, influenciamos e cristalizamos ânimos, crenças, atitudes e comportamentos, preconceitos e, provavelmente, algum tipo de estigma. A violação dos direitos fundamentais é banalizada. A dignidade, a autonomia e a liberdade também. Muitos dos (sub)sistemas atuais, nas várias áreas da vida, são construídos pelo trauma, opressão, injustiça, medo, rejeição e alienação.


É preciso um olhar atento para identificar e expor o racismo, mesmo nas situações mais quotidianas e, tantas vezes, mascaradas e descriminalizadas. A discriminação e o estigma causam impacto e sofrimento psicológico profundo na vida das vítimas, com várias consequências a nível da saúde mental como, depressão, baixa autoestima, ansiedade ou stress pós-traumático. As consequências para a vítima, para a comunidade e para mundo não serão equiparadas mas não deixam de ser brutais.


O racismo adoece-nos nas mais variadas formas.

Para as pessoas que são vítimas de racismo e preconceito é fundamental o trabalho psicoterapêutico, de forma a serem cocriados espaços genuínos de escuta e de presença - de coração, peito e mente abertos -, para contrariar a sistemática opressão que diariamente ocorre e que, no trabalho psicoterapêutico, não pode ser perpetuada ou reproduzida. Infelizmente, também pela "ciência" e alguns estudos científicos, podem existir crenças racistas, que entre os profissionais de saúde, podem condicionar os espaços de cura para estas pessoas.


Mais do que um diagnostico individual, as consequências do racismo são sistémicas e a sintomatologia da vítima poderá ser, de alguma forma, como um sintoma da sociedade atual. Uma das formas de lutar e combater este problema é com bondade, compaixão e empatia. Assim, podemos impactar o que em comum partilhamos - a nossa humanidade. E, para isso, não é necessários sermos psicólogos, apenas Pessoas (isto de se "ser-humano"!).


Que escutemos e observemos mais, mesmo que a expressão do (nosso) mundo seja dura, crua, bizarra, não saudável e desigual. E, por essa ampliação, de consciência e responsabilidade social, seremos mais presentes, criativos e ativos no processo de mudança, face às velhas narrativas e estruturas, que tanto marginalizam as pessoas.



Psicóloga Clínica & Co-founder RUMO



Queremos continuar a dar voz às tuas histórias. Compartilha connosco pelo email info@rumo.solutions.



Ref. Bibliográficas:

ALMEIDA, S. O que é racismo estrutural? Belo horizonte: Letramento, 2018

CARONE, Iray et. al. Psicologia Social do Racismo. 1ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2016.

VALVERDE, Danielle; STOCCO, Lauro. Notas para interpretação das desigualdades raciais na educação. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 17, n.3, p. 2009

PARADIES et al Racism as a Determinant of Health: A Systematic Review and Meta-Analysis. DOI:10.1371/journal.pone.0138511 September 23, 2015.






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