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Medo e Psicoterapia - Habitamos numa casa em chamas

“Here comes a storm,

The dust and papers dance around the room,

It tells of a storm”

The Calm Before – Matt Elliott


A "casa" em chamas


Receio, apreensão, fobia, e desconfiança. Quem és tu e para onde me levas?

Medo, possivelmente a emoção mais comumente partilhada por todos- aquilo que nos preserva (seja em corpo ou mente). Ouvi recentemente um colega americano a comparar psicologia com a profissão de um bombeiro. Imagine-se: Um edifício em chamas, as pessoas lá dentro em risco (seja de vida ou mesmo só de uma queimadura ligeira), sem perceberem como se podem salvar.


Embora limitada a comparação, a diferença é que o bombeiro quando entra num edifício em chamas pode simplesmente agarrar numa pessoa, pô-la sobre o ombro, e sair. Às vezes, as pessoas têm medo de saltar dum edifício em chamas.


Os psicólogos e os psicoterapeutas não têm esse luxo. Temos que entrar no edifício em chamas, lentamente sentar-nos ao lado da pessoa, e tentar convencer a pessoa a sair do edifício. Porque a pessoa, além de não ver outra forma de se salvar, tem imenso medo de sair do edifício em chamas. E não conseguimos obrigar ninguém a agir/refletir sobre a sua vida.


O medo em Psicoterapia

Somos seres atraídos pelo facilitismo e ao evitamento da dor. Como tal não é de surpreender que quando estamos em sofrimento, tentarmos-nos agarrar à forma familiar como lidamos com a dor. Se funcionou até agora, porquê mudar? Melhor é afogarmos as mágoas com preenchimentos vazios. Porquê mudar? Porquê tentar conhecer o desconhecido? Porquê reconhecer que o edifício está em chamas?


Uma dupla armadilha. Seja pelo conforto que as chamas proporcionam, ou seja pelo medo que é ir ao quarto escuro - que pode ser a porta da saída. Ela por ela, o inverno está aí, o dia das Bruxas já passou, portanto é melhor adormecer e esperar que isto passe. Talvez ao dormir, o dia de amanhã possa trazer o alívio das dores que vivi hoje. E oxalá apague as d’ontem, da semana anterior, do mês anterior e do ano anterior (década até?)


Entristece-me ver o receio que as pessoas têm de si mesmas e das suas emoções, mesmo que empatize com isso. Temos excelentes razões para ter medo, porque para todos os efeitos habitamos na casa em chamas… se sairmos, para onde vamos?

Gosto de dizer às pessoas na primeira sessão: “Isto poderá ser assustador, doloroso às vezes, e certamente difícil- mas estarei aqui consigo para lidar com tudo o que poderá vir. Ainda mais, tenho confiança que podia estar melhor na sua vida, e teria todo o gosto de percorrer esse caminho consigo.”


Entristece-me, infelizmente, que frequentemente decidem ficar no edifício em chamas quando podiam sair. Bastava esticar a mão e confiar noutro que quer ajudar.



Psicoterapeuta e Psicólogo Clínico RUMO

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