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Da Saudade à Esperança: estratégias para enfrentar os desafios emocionais

A essência da humanidade reside na procura pela proximidade, do toque e no profundo desejo de estar perto daqueles que amamos. No emaranhado tecido das relações humanas, a saudade surge como uma emoção complexa que ecoa através do tempo e do espaço.


Sentir saudade é uma experiência socioafetiva que pode ter efeitos significativos na saúde emocional e psicológica. Seja na perda de um ente querido, na emigração para terras distantes ou no término de um relacionamento, a saudade é como um fio condutor de uma jornada de crescimento pessoal.

 

A Profundidade da Saudade


A saudade lembra-nos da efemeridade da vida. Como uma sinfonia de emoções, é uma melodia que mistura sentimentos de mágoa, nostalgia e incompletude, causada pela ausência, desaparecimento, distância ou privação de pessoas, épocas, lugares ou coisas a que se está afetivamente ligado e que se desejaria voltar a ter presentes.


Sentir saudade é uma ponte entre o passado e o presente e desdobra-se em diferentes tipos, desde a universalidade da emoção até a nostalgia positiva que nos permite recordar momentos felizes.

 

Bases neurobiológicas da saudade e o impacto no funcionamento cerebral

 

Esta emoção, ao mesmo tempo poderosa e delicada, pode moldar a nossa saúde emocional de maneiras diversas. A saudade pode desencadear sentimentos de tristeza, solidão e melancolia e, em casos mais desafiadores, até mesmo depressão.


Reconhecer e processar a saudade é crucial para manter um equilíbrio saudável entre as lembranças afetuosas e o cuidado com a saúde emocional: aceitar a situação que provoca o sentimento é o primeiro passo, pela permissão em se sentir a ausência e valorizar os momentos vivenciados.


A vivência da saudade, com as suas manifestações emocionais e cognitivas, tem suscitado interesse nas neurociências, revelando-se como um fenómeno multifacetado. Estudos neurocientíficos indicam que a saudade está associada a alterações em regiões cerebrais relacionadas às emoções, memória e processamento social. A amígdala, por exemplo, desempenha um papel crucial na resposta emocional à saudade, enquanto o hipocampo está envolvido na recuperação e armazenamento de memórias associadas a esse sentimento.


Os neurotransmissores, como a dopamina e a oxitocina, também estão implicados na modulação das respostas emocionais relacionadas à saudade. Além disso, a saudade parece ter uma base neurobiológica evolutiva, sendo essencial para a formação e manutenção de vínculos sociais. O trabalho de Svoboda e Levine (2009) destaca a importância da rede neural por defeito, incluindo o córtex pré-frontal medial, na elaboração de representações mentais durante episódios de saudade.


Além da distância: estratégias para lidar com a saudade


Saudade e a experiência de Luto


A saudade, no luto, é uma ponte entre o que foi e o que permanece na memória. Ao reconhecer a saudade como uma expressão natural de amor e afeto, que possa permitir-se sentir, compartilhando memórias com outros, encontrando esperança nas lembranças positivas e valiosas, também pela possibilidade de criar rituais de homenagem e celebrar a vida da pessoa falecida.

 

Saudade e experiência de Emigração


A emigração muitas vezes desencadeia a saudade de casa, da cultura, das rotinas e das conexões familiares. Procure manter os laços afetivos através de (video)chamadas, mensagens e celebrações, enraizando-se nas conexões virtuais. No “novo lar”, procure encontrar esperança ao abraçar novos hobbies, envolva-se na comunidade local, cultive novas amizades, tradições e reconheça a sua capacidade de resistência e de adaptação à mudança.

 

Saudade e experiência de término de Namoro/Relação


A saudade, após o término, pode ser avassaladora, repleta de lembranças e do vazio da ausência. Compreender e permitir-se sentir as diversas emoções são aspetos cruciais, assim como o establecimento de limites claros de contato, procurar apoio social e focar-se no autoconhecimento e autocuidado, como âncoras que nos mantêm firmes enquanto enfrentamos as ondas emocionais naturais.

 

Abraçar a Saudade com Esperança


Ao explorarmos as profundezas da saudade, é vital reconhecer a presença da esperança como uma companheira constante. A saudade não é apenas um lembrete doloroso do que foi perdido; é também uma oportunidade para crescimento emocional:

  • Aceitação

Aceitar a saudade como parte inevitável da jornada humana. Não ignorar ou reprimir a saudade. Permitir-se sentir e reconhecer a ausência.

 

  • Conexão Social

Procurar o apoio de amigos e familiares para compartilhar sentimentos. Expressão emocional. Manter conexões, mesmo à distância, utilizando tecnologias de comunicação.

 

  • Distração e Autocuidado

Distrair-se durante momentos difíceis com atividades prazerosas. Praticar o autocuidado através de hobbies, exercício físico e momentos de relaxamento.

 

  • Reflexão e Terapia

Refletir sobre as emoções associadas à saudade. Redefinir limites pessoais. Procurar ajuda profissional quando necessário, através de terapia, grupos de apoio mútuo, ou aconselhamento médico.

 

  • Projetos Futuros

Estabelecer objetivos pessoais e profissionais para criar um futuro motivador. Foco na rotina pessoal. Envolvimento na comunidade local.

 

 

A saudade, quando encarada com esperança, transforma-se não apenas em uma lembrança do passado, mas em um farol que ilumina nosso presente e futuro.

Nos corredores do tempo, a saudade e a esperança dançam juntas, entrelaçadas na tapeçaria da nossa existência. Que possamos abraçar a saudade como uma parte intrínseca da nossa humanidade, transformando-a em uma inspiração para uma vida mais rica e significativa.

 



Cofounder RUMO & Diretora Clínica

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde



 

Referência:

Svoboda, E., & Levine, B. (2009). Os efeitos do ensaio na neuroanatomia funcional da memória autobiográfica episódica e semântica: um estudo de ressonância magnética funcional. Journal of Neuroscience, 29(10), 3073–3082.

 

 



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