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A cidade que nunca dorme

[Este relato foi escrito depois de uma temporada que estive fora de Portugal, no Brasil, a realizar um estágio profissional na área de Psicologia]


É complicado (d)escrever esta experiência.

A frustração mantém-se, por pensar que este relato poderá não bastar para a compreensão da mesma e que metade tenha ficado pelo oceano. Foi a experiência. O encontro com o que desconhecia. A evidência dos meus limites, dos meus medos e das minhas inseguranças. Novas perspetivas, novas práticas e novos saberes.



Na cidade que nunca dorme, no barulho ensurdecedor, existiram muitos momentos de silêncio onde, depois de dias onde tanto aprendia, os pensava na tentativa de os apreender. Pensava nos fracassos e nas conquistas.




Nesses momentos, o silêncio encontrava a palavra e a palavra encontrava o acolhimento de que precisava.

Afinal, também eu me confrontava com o desconhecido, com o não controlável. Também eu estava desamparada e inquieta, como a maior parte das pessoas com quem me cruzava na prática clínica. Nesta, somos investidos pela pró-cura, num ciclo que pode alimentar o narcisismo, pela condição poderosa que nos conferem. Por outro lado, ao olhar para dentro, e no confronto e na identificação de tantas histórias, de tantas outras vidas [aquela mãe – a minha mãe], e na condição de estrangeira, a distância remetia-me aos meus entes queridos e, inevitavelmente, o sentimento de desamparo aparecia face ao desconhecido.


Até que ponto as angústias, ante o desamparo, sentidas por aquela mãe, não foram semelhantes às minhas?


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