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O que devo procurar quando vou a um psicólogo?

por António Tavares

A psicologia e a psicoterapia têm inúmeros estudos a comprovar a eficácia e os resultados da mesma, no entanto, é uma especialidade da saúde e da medicina que é frequentemente posta em causa pelos utentes. É algo frequente ouvir :“Mas como é que falar sobre isto vai ajudar o quer que seja?” ou “Diga-me apenas uma técnica para lidar com isto” e infelizmente, ou felizmente, para bem dos utentes a psicologia é uma intervenção que demora algum tempo a ter efeito.

Tal como a fisioterapia, não se pode assumir que após partir uma perna, a pessoa esteja logo apta para correr. A mesma lógica aplica-se à psicologia. Normalmente uma pessoa que sofra de alguma angústia psicológica é derivado a situações contextuais históricas e/ou momentâneas que são difíceis de mudar subitamente. Como tal, seja exigir isso do psicólogo, ou a pessoa exigir isso de si mesma é possivelmente uma das piores abordagens a ter à saúde mental.

Então o que é importante num bom acompanhamento psicológico? O que procurar?


Coisas bem-feitas normalmente necessitam de algum tempo.


Normalmente quem recorre aos serviços de saúde mental, já se encontram em sofrimento há algum tempo. Isto porque embora seja fácil diagnosticar uma perna partida ou uma gripe, o sofrimento psicológico passa frequentemente como “normal” na nossa visão do mundo. Seja porque ansiedade e tensão é algo inerente à vivência do dia-a-dia, ou porque simplesmente não sabemos melhor. Uma das questões que é relevante ter em mente é que o processo psicológico pode demorar algum tempo “resolver a questão” mas uma das vantagens é que muito rapidamente sente-se que a questão está a ser endereçada e existe uma melhoria nas primeiras sessões. Em certas situações, pode ser que seja só necessário esta atenção necessária para lidar com a questão visada.


O melhor psicólogo do país? Ou um barato?


Quando se procura um psicólogo, normalmente procura-se duas coisas – valores acessíveis, ou se é um dos melhores psicólogos disponíveis. No entanto, aquilo que a literatura diz que é mais consistente em termos de resultados é a relação genuína- isto é, a capacidade de cada um ser autêntico e verdadeiro com os sentimentos que têm na relação terapêutica. Isto pouco tem a ver com a capacidade financeira do utente, ou com a capacidade técnica do terapeuta. O melhor terapeuta do mundo pode não conseguir criar uma ligação com uma pessoa em específico, até porque ele próprio, no final do dia, é só mais uma pessoa (e todos nós temos que ir à retrete). Para algumas pessoas isto pode parecer estranho, considerando que a relação terapêutica é baseada numa troca e receber baseado em valores e responsabilidades dos serviços. Compreende-se que uma relação profissional, dificilmente poderá ser sentida nos primeiros momentos pelos utentes como verdadeira ou genuína. Pessoalmente já ouvi várias questões a duvidar exatamente a minha posição perante os utentes- seja por interesse, seja pelo meu trabalho ser esse, ou mesmo até pela minha formação académica.

Os limites da técnica, da experiência e da teoria acabam no momento em que os dois começam a falar- embora possa ser uma prática informada, a forma depois como se relaciona, e as características do psicólogo afetam sempre muito mais os resultados do que propriamente os conhecimentos do mesmo (curiosamente, isto em si é um conhecimento científico comprovado).

Como tal, quando se procura apoio psicológico, não se deveria procurar coisas que frequentemente se encontram no “mundo lá fora”. Isto seja, respostas rápidas como se de um comprimido se tratasse, ou de um serviço frio e focado no objetivo.

Uma das vantagens do mundo psicoterapêutico é que pode-se concretamente distanciar-se das pressões externas/internas do mundo normal, e por isso tudo em suspenso para uma análise com uma pessoa que é (idealmente) até ao seu âmago empática e preocupada. Mais que tudo, nos primeiros momentos do apoio psicoterapêutico é necessário existir um alinhamento de ideal, e após isso, um verdadeiro sentido de união, cooperação e de compaixão.


Então e os clientes?


Curiosamente, quão mais tento aprofundar a minha prática profissional, é frequente debater-me com o desafio de “chamar” o cliente para a consulta. Por mais que me preocupe com as questões relacionais e com a honestidade relacional, é frequente os utentes porem no terapeuta (comprovado pela literatura) a responsabilidade de gerir a relação- ou mesmo, de resolverem impasses terapêuticos de forma unilateral. O que até certo ponto está certíssimo, mas para existir uma relação psicoterapêutica, é necessário também haver diálogo- e cumplicidade na responsabilidade.

Como tal, uma pessoa que recorra a um psicólogo e sentir dificuldades do apoio psicoterapêutico, deveria falar abertamente sobre esses sentires- até porque frequentemente, essas mesmas questões são as que levam as pessoas a sentirem dificuldades e sofrimento na sua vida, e pode ser um espaço privilegiado/seguro para resolver as mesmas.

Em suma, quando se recorre a um serviço psicoterapêutico/psicológico devia-se primeiro averiguar: 1) Empatia 2) concordância de objetivos 3) concordância da forma como chegar lá e 4) abertura para falar de tudo por mais doloroso que seja.

Conclusivamente, o que pode exigir ao psicólogo é abertura, e espaço para ser uma relação diferenciadora.

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