É comum que pacientes homens ao chegarem para terapia, tenham dificuldades em expressar sentimentos e emoções, recorrendo a maneiras intelectualizadas ou com teor de racionalidade no elaborar dos seus sofrimentos e questionamentos.
É também certo, até antes mergulhar em um processo terapêutico, que estes homens possam ter agido de acordo com um entendimento de que afetos e emoções são assuntos de homem. É provável que até o momento, estes mesmos homens tenham organizado suas narrativas de vida com base em padrões determinados pela Hetero-Cis-Normatividade. Tais situações não são apenas corriqueiras, mas acabam por ser formas de aprisionamento do Eu, fonte de angústias e adoecimento físico e mental.
Então, será que o sofrimento destes e tantos outros homens, é de alguma forma resultado de ansiedades e frustrações acerca da ideia do que é ser homem? Como a masculinidade se relaciona diretamente com a saúde mental?
Antes de encontrarmos respostas para estas questões, é necessário compreendermos o que são os padrões socioculturais da Heteronormatividade e Cisnormatividade. A heteronormatividade remete a formas de agir e pensar de acordo com um conjunto de práticas e discursos que apenas aceitam a heterossexualidade como maneira legítima de expressão da sexualidade. Por outro lado, a cisnormatividade se refere as ideologias que concebem superioridade de pessoas que estão em conformidade com o sexo atribuido ao nascimento (pessoa que nasce com pénis = homem), face a pessoas que fogem a essa norma.
Com isso dito, acredito ser importante a discussão de que esses padrões culturais, em conjugação com a ideia ociendental sobre a masculinidade, fazem parte dos discursos médico, jurídicos e políticos de inclusão e exclusão do que é ou não um homem. Portanto, frases como «meninos não choram», é um exemplo de discursos que vão suprimir a expressão de emoções e afetividade aos corpos identificados como homens
Há um consenso entre profissionais de saúde mental de que, a supressão emocional não desfaz as emoções, apenas acentua a duração e intensidade da dor. Estudos sobre masculinidade mostram que homens, sejam gays ou héteros tendem a centrar mais a sexualidade em suas vidas, do que mulheres, hetero ou lésbicas, que tem a afetividade e o cuidado (Kimmel, 2005).
Deste modo, compreende-se as razões pelas quais os homens que buscam terapia costumam apresentar formas de dissociação com os seus afetos e emoções ao longo das suas trajetórias de vida.
A relação entre saúde mental e a masculinidade
Com isso, podemos entender a relação entre saúde mental e masculinidade ao observar as angústias, ansiedades e sofrimento gerados por expectativas colocadas por discursos socioculturais que definem normas estritas sobre a expressão da masculinidade e da sexualidade de uma pessoa que se identifique como homem na atualidade.
Sem esquecer que, outras categorias normativas tais como étnia, orientação sexual e classe, sobrepõem-se e intensificam desconfortos e sofrimentos. Sabendo disso, é fundamental que na escuta terapêutica de homens em contexto de psicoterapia seja contemplada a exploração dos significados da ideia de vulnerabilidade e masculinidade.
Há um problema sociohistórico e cultural que se situa na superação da normatividade que associa masculinidade a heterossexualidade, cisgeneridade e outras estruturas opressivas.
Acredito portanto que um caminho para mudança e transformação, se faz através das ideias de que meninos não só choram como trocam afetos e emoções.
Com isto, os homens que buscam terapia terão a oportunidade de vivenciarem acolhimento e conectarem-se de forma autêntica com suas vulnerabilidades, para encontrar a partir daí potencialidades, superando e nomeando suas dores.
Psicólogo Clínico RUMO
Referências:
Kimmel, M. S. (2005). Gender of Desire, The: Essays on Male Sexuality.
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